quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Gente Bronzeada

Está na hora de esta gente bronzeada mostrar seu valor. Assim começa a música Brasil Pandeiro de Assis Valente, baiano radicado no Rio de Janeiro, composta há mais de setenta anos, que foi um grande sucesso na voz de Carmem Miranda e cerca de quarenta anos depois, gravada pelo grupo Os Novos Baianos fez sucesso outra vez. De forma indireta, ela é uma homenagem ao povo carioca, um povo alegre, irreverente e hospitaleiro. Mas que sabe lutar.Há quem sambe diferente, noutras terras, outra gente.
Na época do Brasil Colônia, nosso país era considerado o fim do mundo, os Quintos do Inferno. No Brasil Império, o Rio de Janeiro era a capital brasileira, chamada de Cemitério dos Europeus, Capital da Morte e outros termos depreciativos, pelas péssimas condições sanitárias. Não era a única cidade a ter tal fama, no Brasil, Belém também era chamada assim, além de algumas cidades asiáticas.
Ao assumir a Presidência da República, no início no Século XX, Rodrigues Alves resolveu atrair investimentos estrangeiros, para isto resolveu investir na modernização do Rio de Janeiro. Em duas administrações municipais, Pereira Passos (1902 a 1906) e Souza Aguiar (1906 a 1909) o Rio se transformou e passou a ser conhecida como a Cidade Maravilhosa, o primeiro registro escrito foi feito por Coelho Neto, numa crônica publicada no jornal A Notícia, em 1908, durante a Exposição Nacional.
Desde então, o Rio de Janeiro se consagrou como a síntese do Brasil.
Nestes Jogos Pan-Americanos isto tem se confirmado. Antes da abertura, a irreverência carioca, aliada ao seu espírito de luta, quando uma faixa com o logotipo do IBAMA foi pendurada no Cristo Redentor. Os servidores do IBAMA estão em greve, mantendo apenas os serviços essenciais. O governo logo acusou os grevistas de fazerem uma greve política. E é verdade, como todas as greves, esta também é política. Contudo, não é uma greve por salários, não é uma greve por benefícios para os servidores. É uma greve contra a política ambiental do governo Lula. Como os servidores do IBAMA lidam diretamente com as questões ambientais, sabem mais do que o resto do nosso povo, há o sentimento de que Lula está destruindo a Amazônia ao passar para ONGS, Organizações Neo Governamentais, o controle do território e a exploração dos recursos. Em nome de pretenso desenvolvimento econômico, Lula provocará criminoso e irreversível mal, com conseqüências terríveis contra a vida no nosso planeta. Se todos nós conhecêssemos a questão como os servidores do IBAMA conhecem, certamente faríamos mais do que uma greve, enxotaríamos o chefe do governo mais corruPTo de nossa História, como escreveu um atual ministro de Lula.
A sensibilidade e a irreverência do povo carioca proporcionaram a maior vaia que um governante levou, pois nunca na História deste país um presidente foi tão vaiado. E a vaia foi justa.
Eu jamais fui entrevistado por um instituto de pesquisa de opinião. Entre meus familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, ex-colegas de estudo e conhecidos, ninguém foi entrevistado. Com cinqüenta e seis anos de idade, conheço tanta gente que este universo se constitui numa amostra representativa. Ninguém que eu conheço foi ouvido por um instituto de pesquisa de opinião. Será que eles ouviram a voz rouca das ruas, representada por noventa mil pessoas?
Em nossas eleições, a votação é feita em urnas eletrônicas reprovadas em todos os países desenvolvidos. Um representante da empresa fabricante das tais urnas foi preso por fraude no Equador. O principal responsável desenvolvimento da urna foi responsável pela fraude da PROCONSULT, um escândalo internacional. Não é de se estranhar que os institutos de pesquisa de opinião acertem o resultado das urnas e sejam dissociados da voz rouca das ruas. No Rio de Janeiro, há muito tempo Lula não permite que as pessoas circulem por onde ele passa, pois tem sido sistematicamente vaiado. Eu lamento não estar na cerimônia de abertura para somar a minha voz à vaia que simbolizou um rotundo não ao descalabro, à corrupção, à impunidade, à entrega de nosso suor, nosso sangue e nossa terra em troca de vantagens pessoais espúrias.
Esta gente bronzeada mostrou, para quem quiser ver, que o rei está nu.

MANOEL CARLOS PINHEIRO