sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nova Campanha: “Vai, Dantas, conta tudo”

Lula, Protógenes e de volta à conclamação: “Vai, Dantas, conta tudo”

Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, não? O de Lula, vejam só, pareceu um tanto mais incômodo desta vez do que de outras. Que Protógenes Queiroz deixou o Planalto irritado, isso é fora de dúvida. Também se sabe que a operação foi toda feita ao arrepio do comando da PF e sob a coordenação da Abin. O Planalto pediu para Protógenes sair do caso? Foi o que seus amigos vazaram para a imprensa, no esforço coordenado de fabricar um mártir. Se o Planalto procurava atuar sem aparecer, teve de entrar com a mão grande: mandou divulgar trechos da conversa de Protógenes com a cúpula da polícia em que ele anuncia a disposição de não mais presidir o inquérito, embora queira continuar no caso. A fala vai transcrita e comentada no post abaixo.

O mais perverso para o “doutor Protógenes” é que a fala foi divulgada no melhor estilo... “doutor Protógenes”. O que quero dizer com isso? De uma reunião de quase três horas, conhecemos não mais do que três minutos e 41 segundos. Sim, dá para afirmar que o delegado pediu pra sair. Mas também dá pra dizer que ele foi saído. O que não tem nenhuma ambigüidade é outra coisa: Lula, quem diria?, meteu-se pessoalmente e pra valer na questão. Será que o delegado, com essa mania de atirar em tudo o que move, acabou atingindo algum alvo indesejado, imprevisto? Vai saber.

Há aspectos curiosos nessa história toda. Lembram-se? A investigação nasceu daquela apreensão do HD do Opportunity etc e tal (ler em arquivo). No meio do caminho, um bolsão do subjornalismo decidiu se aliar a uma ala do PT que havia caído em desgraça para denunciar uma grande conspiração na mídia, de que o ogro e financiador seria Daniel Dantas. Dos cadernos de política às páginas de culinária, sempre se sentia aquele cheirinho de dendê, não é? Até a crítica gastronômica perdera a inocência – refiro-me à inocência política. Tudo coisa de Dantas.

Essa gente engravidou Protógenes pelo ouvido e passou a orientar, vamos dizer assim, o fundamento político do seu trabalho. Ora, o que quatro ou cinco jornalistas decadentes e a soldo têm a oferecer a um investigador da PF? Ressentimento, mentira, inveja, delírio, patetices como a que apontei ontem aqui, em que um orçamento de tradução é chamado de evidência de que a mídia está comprada.

O problema de atravessar o umbral de uma teoria conspiratória é cair no labirinto e não sair mais de lá. Cada novo caminho errado é tomado como uma evidência de que a conspiração existe mesmo. E Protógenes começou a enfiar os pés pelos... pés. A velha-guarda do subjornalismo lhe soprava: “Dantas financia a ‘mídia’ golpista”. Ocorre que, a exemplo do que publiquei aqui logo no primeiro dia, o banqueiro, hoje em dia, está metido com a turma do PT. Para a melancolia dos vagabundos insufladores, de 2003 para cá, os amigos de Dantas são petistas, seus advogados são petistas, seus lobistas são petistas.

Como o golpezinho vulgar contra a imprensa falhou – a canalha tentou pôr o pescoço acima da linha d’água, mas não conseguiu -, restou da tal operação a possibilidade de ligar Dantas a algumas figuras graúdas do... petismo!!! Pô, até o Primeiro-Compadre, Roberto Teixeira, foi advogado do banqueiro. E foi aí que Lula estrilou. Publicamente, cobrou que Protógenes continuasse a presidir o inquérito. De fato, fez chegar ao delegado a informação de que ele tinha ido longe demais ao grampear uma conversa de Gilberto Carvalho, seu chefe-de-gabinete.


(Blog do Reinaldo Azevedo)